Fui me lembrando de alguma coisa que tinha acontecido uma semana antes. A família ficou atarantada. Começou quando eu me sentei perto de Tio Edmundo na casa de Dindinha, que lia o jornal.
— Titio.
— Que é, meu filho.
Ele puxou os óculos para a ponta do nariz como toda gente grande e velha fazia.
— Quando o senhor aprendeu a ler?
— Mais ou menos com seis ou sete anos de idade.
— E uma pessoa pode ler com cinco anos?
— Poder, pode. Ninguém gosta de fazer isso porque a criança ainda é muito pequena.
— Como é que o senhor aprendeu a ler?
— Como todo mundo, na Cartilha. Fazendo B mais A: BA.
— Todo mundo tem que fazer assim?
— Que eu saiba, sim.
— Mas todo mundo mesmo?
— Ele me olhou intrigado.
— Olhe, Zezé, todo mundo precisa fazer assim. Agora me deixe terminar a minha leitura. Veja se tem goiaba no fundo do quintal.
Colocou os óculos no lugar e tentou se concentrar na leitura. Mas eu não saí do canto.
— Que pena!...
A exclamação saiu tão sentida que ele de novo trouxe os óculos para a ponta do nariz.
— Não adianta, quando você quer...
— É que eu vim lá de casa, andei pra burro só para contar uma coisa para o senhor.
— Então vamos, conte.
— Não. Não é assim. Primeiro preciso saber quando o senhor vai receber a aposentadoria.
— Depois de amanhã.
Deu um suave sorriso me estudando.
— E quando é depois de amanhã?
— Sexta-feira.
— Pois na sexta-feira o senhor não quer trazer um“Raio de Luar” pra mim, da cidade?
— Vamos devagar, Zezé. O que é Raio de Luar?
— É o cavalinho branco que eu vi no cinema. O dono dele é Fred Thompson.
É um cavalo ensinado.
— Você quer que eu traga um cavalinho de rodas?
— Não, senhor. Quero aquele que tem uma cabeça de pau com rédeas. Que a gente coloca um cabo e sai correndo. Eu preciso treinar porque eu vou trabalhar no cinema mais tarde.
Ele continuou rindo.
— Compreendo. E se eu trouxer, o que eu ganho?
— Eu faço uma coisa pro senhor.
— Um beijo?
— Não gosto muito de beijos.
— Um abraço?
Aí eu olhei Tio Edmundo com uma pena danada. Meu passarinho lá dentro falou uma coisa. E eu fui lembrando que muitas vezes tinha escutado... Tio Edmundo era separado da mulher e tinha cinco filhos ... Vivia tão sozinho e caminhava devagar, devagar ... Quem sabe se ele não andava devagar era porque tinha saudade dos filhos? E os filhos nunca vinham fazer uma visita para ele.
Dei a volta na mesa e apertei com força o seu pescoço. Senti o seu cabelo branco roçar na minha testa, bem macio.
— Isto não é pelo cavalinho. O que eu vou fazer é outra coisa. Vou ler.
— Você sabe ler, Zezé? Que história é essa? Quem foi que lhe ensinou?
— Ninguém.
— Você está com lorotas.
Me afastei e da porta comentei:
— Traga meu cavalinho sexta-feira pra ver se eu não leio!...
想起上个礼拜发生的那件事,搞得全家都一头雾水。这件事要从姥姥家开始讲起,当时我坐在艾德孟多伯伯附近,他在看报纸。
「伯伯。」
「怎么啦,乖宝宝?」
他把眼镜拉到鼻端,所有上了年纪的大人都这样。
「你什么时候学会看书的?」
「大概是我六岁还是七岁的时候吧。」
「有人五岁就学会看书的吗?」
「可以啊。但是没有人会教这么小的小朋友的。」
「那你怎么学会看书的?」
「跟大家一样啊,在阅读课啊。从A、B、C开始学罗。」
「每个人都一定要这样学吗?」
「我知道的都是这样。」
「但是真的每一个人都是吗?」
他困惑地看着我。
「对,泽泽,每个人都必须这样学。现在让我好好看完报纸。你可以去后院看看有没有番石榴。」
他把眼镜推回原位,想要专心看报。但是我不肯离开原来的位置。
「真可惜!」
我的声音真的充满了遗憾,使得他又把眼镜拉到鼻端。
「没事的话,如果你想要……」
「只是我从家里过来,拼命地走只为了告诉你一件事。」
「那就说来听啊。」
「不,不是这样的。首先我必须知道你什么时候会拿到退休金的支票。」
「后天。」
他浅浅地笑,打量着我。
「那后天是哪里一天?」
「星期五。」
「那星期五的时候,你可不可以从城里带『月光』给我?」
「慢点儿,泽泽。什么是『月光』?」
「那是我在电影里看到的一只小白马。它的主人是佛莱德•汤普逊[C3],是只受过训练的马。」
「你要我开车帮你载匹小马回来?」
「不是啦,伯伯。我想要一个头是木头做的小马,还有马缰的,那种后面有个尾巴,你可以骑着到处跑的。我要先练习,因为以后我要演电影。」
他一直笑。
「我懂了。所以如果我带小马回来的话,我有什么好处?」
「我会帮你做一件事。」
「亲亲吗?」
「我不太喜欢亲亲。」
「抱抱吗?」
我看着艾德孟多伯伯,觉得很悲哀。脑袋里面的小鸟对我说了些话,然后我想起了一些听过很多遍的事……艾德孟多伯伯和妻子分居,有五个小孩。他一个人住,走路很慢、很慢……谁知道呢,说不定他走路走得慢,是因为想念他的小孩?这五个孩子从没有来看过他。
我绕过桌子走过去,用力抱紧他的脖子。我感觉到他的白发正轻柔地蹭着我的额头。
「抱你不是为了小马喔,我要为你做别的事。我要念报纸给你听。」
「你会认字吗,泽泽?怎么学会的?谁教你的?」
「没人。」
「胡说八道。」
我走向门口,说:
「星期五把小马带来,就知道我会不会念了……
还没有评论,快来发表第一个评论!