meu pe de laranja lima 04

meu pe de laranja lima 04

00:00
03:38

Fui me lembrando de alguma coisa que tinha acontecido uma semana antes. A família ficou atarantada. Começou quando eu me sentei perto de Tio Edmundo na casa de Dindinha, que lia o jornal.

— Titio.

— Que é, meu filho.  

Ele puxou os óculos para a ponta do nariz como toda gente grande e velha fazia.

— Quando o senhor aprendeu a ler?

— Mais ou menos com seis ou sete anos de idade.

— E uma pessoa pode ler com cinco anos?

— Poder, pode. Ninguém gosta de fazer isso porque a criança ainda é muito pequena.

— Como é que o senhor aprendeu a ler?

— Como todo mundo, na Cartilha. Fazendo B mais A: BA.

— Todo mundo tem que fazer assim?

— Que eu saiba, sim.

— Mas todo mundo mesmo?

— Ele me olhou intrigado.

— Olhe, Zezé, todo mundo precisa fazer assim. Agora me deixe terminar a minha leitura. Veja se tem goiaba no fundo do quintal.

Colocou os óculos no lugar e tentou se concentrar na leitura. Mas eu não saí do canto.

— Que pena!...  

A exclamação saiu tão sentida que ele de novo trouxe os óculos para a ponta do nariz.

— Não adianta, quando você quer...

— É que eu vim lá de casa, andei pra burro só para contar uma coisa para o senhor.

— Então vamos, conte.

— Não. Não é assim. Primeiro preciso saber quando o senhor vai receber a aposentadoria.

— Depois de amanhã.  

Deu um suave sorriso me estudando.  

— E quando é depois de amanhã?

— Sexta-feira.

— Pois na sexta-feira o senhor não quer trazer um“Raio de Luar” pra mim, da cidade?

— Vamos devagar, Zezé. O que é Raio de Luar?

— É o cavalinho branco que eu vi no cinema. O dono dele é Fred Thompson.

É um cavalo ensinado.

— Você quer que eu traga um cavalinho de rodas?

— Não, senhor. Quero aquele que tem uma cabeça de pau com rédeas. Que a gente coloca um cabo e sai correndo. Eu preciso treinar porque eu vou trabalhar no cinema mais tarde.

Ele continuou rindo.

— Compreendo. E se eu trouxer, o que eu ganho?

— Eu faço uma coisa pro senhor.

— Um beijo?

— Não gosto muito de beijos.

— Um abraço?

Aí eu olhei Tio Edmundo com uma pena danada. Meu passarinho lá dentro falou uma coisa.  E  eu fui lembrando que muitas vezes tinha escutado...  Tio Edmundo era separado da mulher e tinha cinco filhos ... Vivia tão sozinho e caminhava devagar, devagar ... Quem sabe se ele não andava devagar era porque tinha saudade dos filhos? E os filhos nunca vinham fazer uma visita para ele.

Dei a volta na mesa e apertei com força o seu pescoço. Senti o seu cabelo branco roçar na minha testa, bem macio.

— Isto não é pelo cavalinho. O que eu vou fazer é outra coisa. Vou ler.

— Você sabe ler, Zezé? Que história é essa? Quem foi que lhe ensinou?

— Ninguém.

— Você está com lorotas.  

Me afastei e da porta comentei:

— Traga meu cavalinho sexta-feira pra ver se eu não leio!...

 

想起上个礼拜发生的那件事,搞得全家都一头雾水。这件事要从姥姥家开始讲起,当时我坐在艾德孟多伯伯附近,他在看报纸。 
「伯伯。」 
「怎么啦,乖宝宝?」 
他把眼镜拉到鼻端,所有上了年纪的大人都这样。 
「你什么时候学会看书的?」 
「大概是我六岁还是七岁的时候吧。」 
「有人五岁就学会看书的吗?」 
「可以啊。但是没有人会教这么小的小朋友的。」 
「那你怎么学会看书的?」 
「跟大家一样啊,在阅读课啊。从A、B、C开始学罗。」 
「每个人都一定要这样学吗?」 
「我知道的都是这样。」 
「但是真的每一个人都是吗?」 
他困惑地看着我。 
「对,泽泽,每个人都必须这样学。现在让我好好看完报纸。你可以去后院看看有没有番石榴。」 
他把眼镜推回原位,想要专心看报。但是我不肯离开原来的位置。 
「真可惜!」 
我的声音真的充满了遗憾,使得他又把眼镜拉到鼻端。 
「没事的话,如果你想要……」 
「只是我从家里过来,拼命地走只为了告诉你一件事。」 
「那就说来听啊。」 
「不,不是这样的。首先我必须知道你什么时候会拿到退休金的支票。」 
「后天。」 
他浅浅地笑,打量着我。 
「那后天是哪里一天?」 
「星期五。」 
「那星期五的时候,你可不可以从城里带『月光』给我?」 
「慢点儿,泽泽。什么是『月光』?」 
「那是我在电影里看到的一只小白马。它的主人是佛莱德•汤普逊[C3],是只受过训练的马。」 
「你要我开车帮你载匹小马回来?」 
「不是啦,伯伯。我想要一个头是木头做的小马,还有马缰的,那种后面有个尾巴,你可以骑着到处跑的。我要先练习,因为以后我要演电影。」 
他一直笑。 
「我懂了。所以如果我带小马回来的话,我有什么好处?」 
「我会帮你做一件事。」 
「亲亲吗?」 
「我不太喜欢亲亲。」 
「抱抱吗?」 
我看着艾德孟多伯伯,觉得很悲哀。脑袋里面的小鸟对我说了些话,然后我想起了一些听过很多遍的事……艾德孟多伯伯和妻子分居,有五个小孩。他一个人住,走路很慢、很慢……谁知道呢,说不定他走路走得慢,是因为想念他的小孩?这五个孩子从没有来看过他。 
我绕过桌子走过去,用力抱紧他的脖子。我感觉到他的白发正轻柔地蹭着我的额头。 
「抱你不是为了小马喔,我要为你做别的事。我要念报纸给你听。」 
「你会认字吗,泽泽?怎么学会的?谁教你的?」 
「没人。」 
「胡说八道。」 
我走向门口,说: 
「星期五把小马带来,就知道我会不会念了……


以上内容来自专辑
用户评论

    还没有评论,快来发表第一个评论!