葡语诗名:PROCURA-SE UM AMOR
中文直译:找到爱人
Não precisaser perfeito.
Não precisaser para sempre.
Não precisaser o maior de todos, desde que seja imenso.
Aceitodefeitos de várias espécies, menos a indiferença.
Já vi nofilme, na novela, no romance, e até na vida real (se bem que já faz um tempo.)
Sei que jáfoi mais freqüente, ou porque antes a gente era diferente, ou porque o mundoera outro, mas ouvi dizer que existe ainda.
É raro, eusei, apesar disso procuro.
Pode serlouro, moreno, bonito, feio, médio, esquisito, muito magro, meio bronco, podeter cabelo liso ou cacheado, não importa.
Se eletiver alguma coisa de John Malkovitch misturado com Manoel de Barros, seriaótimo, mas não chega a ser exigência.
Depreferência, que ligue todos os dias, sempre morrendo de saudade.
Seria lindose ele me desse rosas vermelhas. (Mas também não precisa.)
Exijoapenas que ele me beije arrebatadoramente sempre que a gente se encontre, queele fique pelo menos um pouco triste toda vez que a gente brigue, que ele fiquebambo, às vezes, quase morto de desejo. (Não vou sugerir aqui a possibilidadede ele exagerar um pouco, se for preciso, para me deixar mais contente, apesarde saber que essa é uma solução possível.)
Procuro umamor de verdade. (Mesmo que ele minta, muito raramente.)
Estouplenamente consciente de que não é fácil.
Que dátrabalho.
Medo.
Insegurança.
Dúvida.
Dívida.
Trazcobrança.
Problema.
Sofrimento.
Aindaassim, estou preparada para arriscar, chorar, me descabelar, me virar, rebolar,me atirar do 8º andar, se valer a pena.
Prometoestudar sociologia, se for o caso, para tentar entender se antigamente oshomens eram mais atirados ou se as mulheres é que eram mais simples. Se chegara uma conclusão não muito satisfatória, prometo ainda dar a volta por cima.
Só vou daruma única dica: homens, atenção, mulher gosta de ser seduzida.
Através depesquisas, observações, entrevistas ou o que se julgar necessário, procurareicompreender os motivos que levam o sexo masculino a priorizar o trabalho e osexo feminino a dar tanta importância ao amor. (Será essa a maior dificuldadede todas?)
Levarei emconsideração fatores biológicos, históricos, atávicos, hereditários, atípicos.
Juro que,para me inspirar, vou ler muita poesia.
Mecomprometo a ser doce, louca, carinhosa e compreensiva, na medida do possível.
Garantoaprender culinária, se isso for imprescindível.
Façoqualquer negócio.
Só nãoquero me jogar e depois ouvir um “ah, porque não sei que lá”.
Porque nãosei que lá, nada. Aceito tudo, a não ser desculpas esfarrapadas.
Faço questãode um mínimo de certeza, o suficiente para viver alguns dias felizes e algumasnoites muito quentes.
Não abromão de uns poucos detalhes: segredo no ouvido, muita libido e pelo menos umolhar apaixonado por semana.
O ideal éque o começo seja explosivo e o final – se houver final – seja por alguma razãoinevitável. (Se não for o ideal, não faz mal. Tudo tem os seus defeitos.)
Não édifícil me encontrar.
Tenho uns20 e tantos anos, tenho lá os meus encantos, me chamo Suzana, Marina, Tatiana,Isabela, Ana Cecília, Karina, Beatriz, Daniele, Sabrina, Pollyana, Sarita,Manuelita, Simone, Malena, Érika, Gabriela, Camila, Carolina, Mariana, Beth,Natara, Janaína, Josane, Thaís, Ronielle, Maria, e estou espalhada pelo mundointeiro.
AdrianaFalcão, crônica Procura-se um amor, publicado na Veja Rio, 27 de novembro de2002.
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